quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Héracles era filho de Alcmena e Zeus. A história de Alcmena começa com Perseu e Andrómeda, cujos os filhos reinaram em Micenas, Tirinte e Mídea, na Argólida. Eléctrion reinava em Micenas, mas seu poder tinha sido ameaçado por assaltantes da Táfia que roubraram o gado e lhe mataram os setes filhos. O sobrinhode Eléctrion, anfitrião, encontrou o gado a salvo nos campos do rei da Élia e comprou-lho. Quando Eléctrion soube que, para voltar a ter seus animais, tinha de pagar ficou furioso com o sobrinho. Anfitrião atirou o seu bastão a uma vaca, mas acertou e matou o tio acidentalmente, ou, como ele declarou, em legitima defesa. foi julgado pela morte do tio e foi condenado à expulsão de Argo e proibido de ter relações sexuais com a mulher com quem tinha acabado de casar, a filha de Eléctrion, Alcmena, até que vingasse a morte dos setes filhos do tio. Alcmena e Anfitrião viajaram para Tebas, onde reinava Creonte. Ali o assassino do tio ficou purificado do seu crime e não tardou a vingar a morte dos sete primos, combatendo os Tafianos e vencendo-os. Uma noite, enquanto o marido ia a caminho de Tebas após esta batalha, alcmena estava de cama, numa grande preocupação com ele e esperando que ele chegasse a casa são e salvo. De repene chegou alguém que parecia ser Anfitrião, não só pelo aspecto mas também pela voz, cheio de noticias da guerra, mas na verdade tratava-se de Zeus disfaçardo. Trazia consigo uma bela taça em ouro assim como uma magnífica gargantilha igualmente de ouro, presentes para a noiva enviados pelos deuses. Nessa noite, Alcmena concebeu o filho de Zeus. Na noite seguinte, o marido verdadeiro regressou a casa e partilhou com ela a cama pela primeira vez, tendo alcmena concebido um segundo filho. Nove meses depois, deu à luz os filhos gémeos: Héracles, filho de Zeus, e Íficles, filho de Anfitrião. Um dia antes do nascimento dos filhos, Zeus tinha estado a gabar-se aos outros deuses de que a criança que estava para nascer, um descendente de Perseu, haveria de dominar todos os outros descendentes de Perseu. Hera ja estava furiosa com Alcmena por se ter deitado com Zeus, e estes comentários acirraram-lhe a vontade de vingança. Foi à Argólido, onde a mulher do rei Esténelo (outro filho de Perseu) também estava grávida embora o nascimento não fosse para já. Mas hera provocou-lhe o parto para que o filho nascesse prematuramente e prolongou o trabalho de parto de Alcmena para que Héracles chegasse ao mundo depois de Zeus tinha previsto. Assim, a profecia de Zeus tinha de ser aplicada ao pequeno Euristeu em vez de Héracles e viria, portanto, a ser ele o rei de Micenas e Tirinte na Argólida, enquanto o filho de Zeus seria forçado a servir o filho de Esténelo até cumprir 12 trabalhos.


INFÂNCIA DE HÉRACLES


Alcmena deixou o filho recém nascido sozinho no berço durante alguns momentos. Quando regressou, viu duas serpentes venenosas preparadas para ferrar os dentes no rosto da criança. Alcmena correu para elas, pronta a colocar o corpo entre as serpentes e o filho, mas antes que ela pudesse atingir o berço, o bebé Héracles, tinha agarrado as cobras, uma em cada mão, estrangulando-as. Esta foi a primeira de muitas vezes que Hera tentou matar Héracles, e através das quais ele foi ganhando glória. O nome Héracles em grego significa «Glória de Hera», e parece ser um nome pouco próprio para o bebé héroi, dada a inimizade de Hera com ele. Alguns pensam que, originalmente Héracles era filho de Zeus e Hera, e que as histórias da sua fúria tivessem sido inventadas mais tarde. Mas talvez a «Glória» no seu nome possa ser interpretada como a glória que Hera invocou, uma e outra vez, ao enviar-lhe tantos monstro que ele teve de vencer. Em criança, Héracles tinha um temperamento indomável, Teve muitos tutores e enquanto gostava de aprender artes de guerra, mas não suportava o tutor que lhe queria ensinar a escrever e a ler. Um dia atacou esse professor, Lino, com a arma que tinha mais à mão, a cadeira onde estava sentado. Quando o padrasto Anfitrião ouviu relatos deste comportamento pensou que seria bom mandar o rapaz durante algum tempo para as montanhas guardando os rebanhos. Héracles não tardou a ouvir os outros pastores falarem de um leão que andava atacando os rebanhos no monte Citéron e no monte Helicon. Muniu-se de um pau e de uma forte oliveira brava que arrancou da terra e matou o leão com toda a facilidade. Talvez este leão fosse o que lhe forneceu a pele de leão que Herácles costuma usar, atada em volta do pescoço e com a cabeça do leão posta por cima da dele. O acto heróico foi a ajuda a Creonte, rei de Tebas. Tal como Atenas na época do rei Minos de Creta, Tebas era um reino derrotado que devia tributo ao seu conquistador, o rei Orcómeno. Héracles encontrou os homens de Orcómeno que vinham recolher os tributos e travou um luta com eles, tendo-os derrotado e cortado a todos as orelhas e os narizes, dizendo: «Levem estes pedacinhos dos vossos corpos ao vosso rei. É esse o tributo que ele tem a receber de Tebas». Em resposta, o povo de Orcómeno armou um exército para forçar o pagamento, mas Héracles derrotou o exército com toda a facilidade. O rei Creonte ofereceu a Héracles a única filha, Mégara, em casamento e, quando ele aceitou, ofereceu-lhe também o rei de Tebas. Tudo parecia correr bem ao jovem herói, mas a vingança de Hera estava prestes a surgir. Zeus tinha-se gabado de que o próximo descendente de Perseu a nascer governaria os outros, e agora Euristeu, rei de Tirinte e de Micenas tinha exigido que Héracles desempenhasse para ele 12 trabalhos, como servo do rei.


PRIMEIRO TRABALHO



A primeira tarefa que Euristeu deu a Héracles foi a destruição do leão de Némea, uma criatura que não podeia ser morta com bastão, espada, lança ou flecha. O leão tinha talvez sido trazido para Némea por Hera, ou pode ter sido aquele que Selene, a deusa da lua, deu à luz e atirou para a terra. Héracles concluiu rapidamente que as suas armas não tinham utilidade contra o leão, pois a única coisa que poderia fazer era força-lo a recuar para a toca. Concluiu então que a única forma de matar o leão era aproximando-se dele, correndo o risco dos seus dentes e garras, para o estrangular. Rastejou pela estreita abertura da toca (maneira pouco aconselhável de iniciar uma luta) e quando o leão saltou para ele, Héracles agarrou-lhe as patas da frente com uma mão enorme e as de trás com a outra mão e esticou-lhe o corpo até lhe partir a espinha. Este leão é outro possível fornecedor da pele inteira e com cabeça que Héracles usava sobre a cabeça e os ombros. Transportou a carcaça até Micenas e atirou-o aos pés de Euristeu. O rei ficou ficou simultanêamente repugnado e assustado, e proibiu Héracles de voltar a trazer os seus troféus para dentro da cidade, mas viria a mudar de opinião por causa dos outros trabalhos que estavam por vir, em que quis ver com os seus próprios olhos que Héracles tinha realmente cumprido o que lhe tinha sido ordenado. Zeus festejou o primeiro trabalho de Héracles colocando o leão no céu, como constelação com o mesmo nome.


SEGUNDO TRABALHO



Em seguida, Euristeu atribuiu uma outra tarefa a Héracles, ordenou-lhe que matasse a Hidra de Lerna. Lerna é uma região alagadiça junto à costa, cheia de cursos de água que por vezes se abrem em profundezas infindáveis. Lá vivia a Hidra, uma cobra de água, cujo hálito era venenoso, Héracles sabia que ela tinha várias cabeças, pelo menos nove, e possivelmente cem. Eram poucos os que alguma vez tinha visto Hidra e vivido para contar a história, e em cada versão o número de cabeças aumentava. Porém, apenas um delas era imortal, e se, Héracles queria matá-la, tinha de descobrir um modo de lhe cortar essa cabeça, caso contrário, crescer-lhe-iam o dobro das cabeças que lhe fossem cortadas. Héracles levou como ajudante o sobrinho, Iolau, filho do irmão gémeo Íficles. O rapaz ocupou-se a preparar uma grande fugueira enquanto Héracles atacava a Hidra. No fundo de um dos poços de Lerna vivia um enorme caranguejo, uma das criaturas de Hera, que ajudou a Hidra ao morder um pé de Héracles, que voltou a atenção para ele e o matou. Este caranguejo que se pode ver no céu como a constelação dev caranguejo. Héracles pôde prosseguir o combate com a Hidra, cada vez que lhe cortava uma cabeça, chamava Iolau para que cauterizasse o pescoço a sangrar a fim de retardar o seu crescimento de novo. Finalmente, atingiu a cabeça imortal e decepou-a. Todo o corpo da Hidra se desmoronou numa reviravolta dramática e Héracles regressou a Micenas triunfante, após ter mergulhado as flechas no veneno da Hidra vencida. Euristeu reclamou que Héracles não tinha desempenhado a tarefa sozinho, mas ele não lhe ligou importância. Héracles sabia muito bem que Euristeu esperava que ele morresse durante um destes trabalhos. O estava apavorado com Héracles, pensando que quando ele terminasse os 12 trabalhos haveria de querer quem tivesse lhe dado os trabalhos. O medo era tanto que Euristeu se escondia debaixo de terra, dentro de um enorme jarro de bronze, sempre que Héracles estava no palácio...


TERCEIRO TRABALHO


Um dada altura, Euristeu mudou de ideias acerca da proibição feita a Héracles para não levar os troféus para dentro da cidade, ele ansiava pela corça de Cerineia, um animal jovem que Ártemis estimava e que tinha dado os seus chifres dourados. Agora euristeu queria muito ter a corça, o que parecia ser uma tarefa fácil, mas esta corça tinha uma inteligência de deusa. Em tempos,tinha sido a titã Taigete e fora transformada em corça para ficar protegida contra as investidas amorosas de Zeus. Quando Héracles a foi caçar, ela levou-o até o fim do mundo. Primeiro correu pela Arcádia, no norte da Grécia, depois mais para norte para a terra dos Hiperboreanos, os territórios mais a norte onde ainda existem seres humanos. E foi finalmente aí que ele a apanhou. Colocou-a sobte os ombros e iniciou o caminho de regresso a Micena. Ártemis veio dar caça a Héracles, pronta a vingar a morte da companheira, mas ele mostrou-lhe que o animal não estava morto e explicou-lhe que só estava a cumprir o decretado por Zeus. Ártemis aceitou a explicação e guardou a ira para aplicar em Euristeu.



QUARTO TRABALHO




Euristeu exigiu em seguida a Héracles que apanhasse o javali Erimanto. A corça tinha sido um pressa demasiado fácil, pensou o rei. Seria muito mais arriscado para Héracles apanhar um porco selvagem e depois transportá-lo atráves da Grécia. Euristeu não achou que Héracles corresse algum risco ao ir à região de Erimanto, pois os centauros que lá viviam eram amistosos para com os seres humanos. Mas foram os centauros quem mais dificultaram a tarefa de Héracles. Tinha sido fácil apanhar o javali e trazê-lo para Micenas, e não foi a luta com o javali que fez com que os campos ficassem cheios de centauros mortos. O problema começou quando Héracles visitou a gruta de Folo e foi recebido com um banquete de boas vindas. O centauro tentou arranjar comida e bebida própria para um convidado humano e abriu um jarro do vinho que Dionisio lhe tinha dado. Esta foi a primeira vez que o centauro bebeu vinho e isso subiu-lhe de imediato a cabeça. Depois os outros centauros cheiraram o vinhoe começaram a beber. O banquete não tardou e transformou-se num burburinho e Héracles começou a atirar sobre os que o atacavam. As pontas das setas tinham sido envenenadas com o veneno da Hidra pelo que matou uma grande quantidade de bêbados e, por lapso, feriu o Centauro Quíron. Este era o mais esperto dos centauros e um grande curandeiro, tendo-lhe sido garantida a imortalidade pelos deuses. Não podia, portanto, morrer, mas tinha de curar as feridas que Héracles lhe tinha causado. Quíron acabaria por morrer, século mais tarde, trocando a vida pela liberdade de Prometeu, mas quando Héracles abandonou Erimanto com o javali, foi como se o centauro estivesse condenado a uma eternidade de sofrimento. Quando Quíron acabou finalmente por morrer, foi homenagiado no céu com a constelação Sagitário.


QUINTO TRABALHO



O trabalho seguinte tinha a ver com as aves do Lago Estínfalo. Este era mais um pântano que um lago e as aves que o habitavam eran criaturas de Ares o deus da guerra. Tinham em parte a forma humana, mas com garras de aves e cabeças de mulheres, sendo sua comida preferida a carne humana. Em vez de lançarem flechas, lançavam penas, que eram suficientemente afiadas para cortar uma mão humana e semeavam o terror entre a população da Arcádia, destruindo as terras cultivadas e matando quem tentasse detê-las. Só tinha sido exigido a Héracles que afastasse essas aves do lago, não que as matasse, e esta foi a tarefa mais facil de todas. A única coisa que teve de fazer foi assustá-las com um som de um chocalho de bronze e elas fugiram para o mar Negro para atormentar as pessoas de lá.


SEXTO TRABALHO



Euristeu tinha agora tal pavor de Héracles que não conseguia controlar os seus intestinos quando o héroi estivesse no palácio. Talvez tivesse sido esse embaraço que lhe deu a ideia para a tarefa seguinte e que consistia na limpeza dos estábulos de Augias. O rei Augias da Élida tinha manadas de gado, cujos as fezes à muitos anos se acumulavam nos estábulos. e Euristeu ordenou a Héracles que os limpasse em um só dia. Se falhasse, teria de lá ficar para o resto da sua vida como palafreneiro e limpador de esterco. Augias estava tão certo da impossibilidade da tarefa que prometeu a Héracles que lhe daria um décimo do seu gado, se os estábulos ficassem limpos num dia. Héracles podia manejar o ancinho com tanta ferocidade como manejava a espada ou o bastão, mas mesmo assim não poderia ter os estábulos limpos em só dia. Olhando à sua volta verificou que o palácio tinha sido construido entre dois rios. Bastaria cavar uns fossos para que a água corresse pelos estábulos. Num só dia os rios estavam a correr pelo seu novo curso, passando por dentro dos estábulos e lavando assim todos as excressões. O rei recusou-se a cumprir a promessa de dar um décimo do seu gado a Héracles, argumentando que tinham sido os rios e não o homem a fazer o trabalho. Héracles regressou a Micenas meditando sobre a ofensa de Augias. Euristeu saltou de alegria perante a oportunidade de adiar o dia em que Héracles seria um homem livre, e também declarou que esta tarefa não contava pois não tinha sido genuína.


SÉTIMO TRABALHO



Depois ds estábulos de Augias terem sido limpos, Euristeu procurou por toda a Grécia um outro perigo para Héracles enfrentar. Decidiu-se enfim pelas éguas de Diomedes, o rei da Trácia, filho de Ares, de quem tinha herdado o temperamento sanguinário. As éguas de Diomedes eram carnívoras e, tal como as horríveis aves do lago Estínfalo, tinham forma parcialmente humana e o prato favorito era a carne humana. No caminho para a Trácia, Héracles decidiu visitar o amigo Admento e foi então que ele salvou Alceste da morte que a própria tinha escolhido. Continuou depois a Trácia, para o palácio de Diomedes. O rei ficava sempre contente ao ver estranhos à sua porta, ou seja, carne fresca para as suas éguas, mas, desta vez, foi Héracles quem empurrou o rei para as cavalariças e o deixou ao sabor dos dentes das suas éguas. Então, quando os seus estômagos estavam completamente cheios elas menos bravas, Héracles conduziu-as em fila, atadas e com freio, até Micenas para causar problema a Euristeu. Mas ele gostou das éguas e a descendência delas continuou a existir no reino de Micenas até o período de Alexandre, o Grande.


OITAVO TRABALHO



Foi nesta época que Jasão e os Argonautas partiram à conquista do Velo de ouro e como euristeu não conseguia pensar instantaneamente noutra tarefa, Héracles juntou-se por algum tempo, aos Argonautas, até a morte de Hilas. Nessa altura voltou a Tebas, certo de que o rei já teria arranjado alguma tarefa perigosa para ele. Desta vez, foi-lhe ordenado que capturasse o Touro de Minos, o mesmo que Posídon tinha enviado do mar e que o rei Minos não tinha sacrificado, pelo que o deus o puniu, primeiramente fazendo com que a rainha se apaixonasse pelo touro e depois, o minotauro ter sido concebido, enlouquecendo o bicho. Nesta altura, Héracles era um verdadeiro especialista a lidar com animais selvagens, pelo que arranjou forma de dominar o touro com o seu bastão. Atravessou com ele o mar até a Grécia continental, onde, finalmente, teseu o matou.


NONO TRABALHO



Euristeu decidiu que não fazia sentido continuar a mandar Héracles atrás de animais selvagens, visto que conseguia sempre dominá-los sem esforço. Os deuses pareciam não se incomodarem, quando as suas criaturas eram mortas ou dominadas pelo filho de Zeus. Se os animais selvagem não podiam matar Héracles, pensou o rei, talvez mulheres selvagem pudessem. Exigiu então que lhe trouxesse o cinto de hipólita, rainha das Amazonas, e que ela usava à volta da cintura para atar as roupas para a batalha. As amazonas eram uma raça de mulheres que enviará todos os filhos do sexo masculino para a adoção e que só toleravam a companhia dos homens com o fim de engravidarem. Elas cortavam o seio direito para assim poderem usar o arco com total liberdade. Héracles levou na expedição vários hérois, entre os quais Teseu. Inicialmente, foi bem acolhido pelas amazonas e parecia que poderia ter o cinto, bastando pedi-lo. Mas Hera tratou de arranjar problemas, fazendo circular o rumor de que Héracles tinha vindo para raptar a rainha. Iniciou-se uma luta e, na contenda, Héracles matou Hipólita. Esta foi a luta durante a qual Teseu violou Antíope, que viria a ser mãe de Hipólito. A questão do cinto de hipólita não trouxe glória a nenhum homem.


DÉCIMO TRABALHO



Euristeu foi mandado Héracles cada vez mais longe, nas sucessivas tarefas. Quando o rei exigiu o gado de Gérion, Héracles teve de viajar até o extremo oeste, atravessando o largo oceano até à ilha Eriteia. Aí, um cão com duas cabeças aparentado a Cérbero e a Hidra, guardavam o gado de Gérion, o neto de Medusa e filho do guerreiro Crisaor. Gérion tinha duas pernas tal como as outras pessoas, mas a partir da cintura, o corpo ramificava-se em três troncos, com seis braços e três cabeças. Euristeu ordenou a Héracles que dominasse este monstro, pegasse o no gado e trouxesse tudo para Micenas. Para chegar à ilha, Héracles tinha de arranjar um barco. Foi até Filo, mas o rei, Neleu, fechou-lhe as portas da cidade. Os deuses do Olimpo interessaram-se por este conflito e alguns desceram para lutar ao lado de Neleu e outros para apoiarem Héracles. Ao lado deste estava o pai, Zeus, e a meia-irmã Atena. Contra ele estava Hera, e Ares, Apolo, Hades e Posídon. Héracles atacou os deuses imortais e feriu Ares na coxa, Hades no ombro e Hera no peito. Nem mesmo os deuses puderam salvar Neleu e os filhos de morrerem às mãos de Héracles. Viajando para ocidente, Héracles passou no norte da Líbia onde encontrou Anteu, um gigante provocador que insistiu em desafiá-lo para uma luta. Anteu era filho de Geia e de Posídon e onde quer que tocasse na terra recebia uma força de um deus. No passado, Anteu tinha sempre ganho todos os combates a que obrigava os estranhos e tinha decorado o templo do pai com o crânio de suas vitimas. Héracles era um lutador muito talentoso e forte e atirou Anteu para o chão. Qualquer outro lutador teria partido os ossos, na melhor das hipoteses, mas Anteu levantou e começou a atacar Héracles, uma e outra vez, ganhando forças novas sempre que caía. Héracles tinha dificuldade em perceber como é que um mero gigante poderia vencê-lo quando ele tinha acabado de derrotar alguns deuses imortais, fazendo eles se retirarem para o olimpo. Estava pois muito perto de ser vencido por Anteu, mas, por fim, apercebeu-se de que o outro ganhava novas forças sempre que ia ao chão. Parou de tantar derrubá-lo e passou a tentar afastá-lo do chão. O gigante foi ficando cada vez mais fraco enquanto Héracles continuava a mantê-lo em cima, pelo que acabou por ser fácil partir-lhe o pescoço e matá-lo. Héracles passou depois as estreitas águas do Mediterrâneo, onde a África quase toca a Europa, e ali ergueu as colunas de Héracles. Quando se dirigia para a ilha Eriteia, começou por matar o cão de duas cabeças e depois o monstro dono ção de duas cabeças. Foi fácil derrotar o gado pela força, mas consideravelmente menos fácil levá-lo para Micenas. Pelo caminho, Héracles encontrou outra criatura com 3 cabeças, Caco, que lançava fogo pela boca. Este era filho de Hefesto, mas possuia a astúcia de Hermes. Quando Caco decidiu roubar uma parte dos bois a Héracles, puxou-os pelas caudas obrigando-os a recuar, pelo que as marcas apontavam para o sítio de onde tinham sido tirados. Héracles ficou completamente enlouquecido com a detração, mas ouviu os mugidos e precipitou-se para a gruta onde Caco os tinha escondido. Lá o encontrou e o matou. Quando Héracles trazia o gado, Hera enviou um moscardo para agitar as animais, pelo que se espalharam pela Grécia, o que fez com que Héracles levasse meses a voltar a juntá-los. Depois, quando as guiava na direcção de Micenas, encontrou outro gigante, Alcioneu de Corinto, que afinal acabou por ser um oponente mas forte que Caco ou Anteu. Alcioneu atirou violentamente uma rocha a Héracles, tendo dizimado 12 carros que estavam agrupados em torno dele, cheios de atemorizados espactadores. Depois o gigante voltou a pegar na rocha e a atirá-la a Héracles que jogou de volta com o seu bastão, tendo assim esmagado e, consequentemente, morto, o gigante Alcioneu. Este foi o último obstáculo que Hera colocou no caminho de Héracles durante este trabalho, pelo que conseguiu levar o gado até Micenas sem mais problemas. Chegando ao destino, o gado foi de imediato sacrificado a Hera por Euristeu.


DÉCIMO PRIMEIRO TRABALHO



Em seguida, o rei apareceu com um trabalho que considerava impossivel de atingir. Euristeu encarregou Héracles de lhe trazer as maças de ouro de Hespérides. Ninguém sabia onde poderia estar, isto é, ninguém mortal. Mas Héracles era um filho querido de Zeus e talvez a meia-irmã Atena lhe tenha soprado ao ouvido a ideia de que ele deveria perguntar as direcções às Parcas. Estas três antigas deusas costumam ocupar-se a fiar e a tecer os fios das vidas humanas, ,as deixaram as tarefas de lado para falarem com o héroi: «Estivemos aqui quase desde o princípio» - disseram elas - «mas nem mesmo nós sabemos onde poderá ficar a ilha de Hespérides. Só um deus dos mares certamente saberá onde se encontra. Procura Nereu, o velho homem do mar» - aconselharam elas. - « e mantém-no agarrado até ele dar as direcções.» Nereu estava sempre a mudar de forma e não queria falar com Héracles. Primeiro alterou a forma para um fogo a arder, depois para uma serpente marinha que tentava escorregar-lhe dos dedos, em seguida para água e quase caiu para o mar. Mas Héracles agarrou-o rapidamente e, finalmente, Nereu assumiu a sua forma de um deus do mar, e disse-lhe qual o caminho, primeiro, por terra e depois por mar. Foi durante esta viagem que Héracles chegou ao Monte Cáucaso e soube da triste história de prometeu. Por uma vez, o héroi podia tornar a vida melhor em vez de espalhar a morte violenta. Quando ele ouviu que prometeu só poderia ser liberado se alguém imortal concordasse em morrer em seu lugar, e ele recordou-se da ferida que tinha feito ao centauro Quíron, e foi assim que prometeu ficou livre. Héracles tinha agora de viagar de barco, ou melhor, de taça, já que o deus do Hélio lhe forneceu uma enorme taça dourada, a mesma onde o sol viaja para atrevessar o oceano todas as noites, a partir do ponto mais a oeste até ao mais a este, para nascer na manhã seguinte. Héracles navegava na taça de este para oeste, ficando cada vez mais perto da remota ilha das Hespérides com a sua árvore de maçãs de ouro guardadas por serpentes. Esta árvore tinha sido um presente de casamento de Geia, a deusa da terra, para Hera, e por isso Héracles ao tentar colher as maçãs, corria o risco de enraivecer a deusa já tão furiosa. Olhou em redor em busca de auxílio e encontrou-o no gigante Atlas, um titã que ja havia antes de Zeus ser o rei dos deuses. Atlas tinha sido um dos que se tinham revoltado contra o novo rei das divindades, e Zeus tinha-o punido forçando-o a carregar o peso dos céus sobre os ombros. Quando Héracles lhe pediu ajuda, Atlas nem podia acreditar na sorte. Finalmente havia mais alguém que poderia ser levado a segurar os céus. «Só tens de suportar o peso durante um ou duas horas.» - assegurou a Héracles - « Assim que eu trouxer as maças, evidentemente pegarei de novo no meu fardo.» Atlas, de facto, tirou as maçãs da árvore de Hera e realmente foi entregá-las a Héracles, só que se recusou a curvar as costas para voltar a pegar no peso dos céus. «Doem-me os ombros» - queixou-se o héroi - « e preciso de um amortecedor. Retira-me o céu só por uns instantes, para eu me colocar numa posição mais confortável-» Mal o titã concordou, Héracles deslizou debaixo do céu e pôs-se a andar, deixando Atlas sob o fardo. E assim permaneceu até que um dia Perseu passou por lá voando e transformou o gigante numa pedra.


DÉCIMO SEGUNDO TRABALHO


Héracles tinha sobrevivido a mais uma tarefa, apesar de Euristeu ter estado confiante que Hera ficaria tão irada que não permitiria que sobrevivesse. Que missão ainda pior poderia ele arranjar, que garatisse a morte de Héracles? « A morte de Héracles....» - Pensou o rei. « Uma visita ao mundo das sombras seria mesmo o que me dava jeito.» E assim ele pediu ao primo que lhe trouxesse do mundo dos mortos o cão das três cabeças, Cérbero. Até essa altura só Perséfone tinha regressado do mundo de Hades ao mundo dos vivos, mas a muito custo, mesmo apesar de ser uma deusa. Que hipótese teria Héracles? Ponderou se tinha tudo o necessitava para descer ao inferno e regressar ao mundo dos vivos. Não tinha nenhuma moeda para pagar a atravessia do rio Estige, mas caronte estava demasiado aterrorizado com a força mortal de Héracles e deixou Héracles atravessar em seu barco. Cérbero viu-o chegar e fugiu para ficar ao lado do seu senhor, Hades. Héracles encontrou Teseu e Piritoo colados aos tronos que as suas loucuras lhes tinham trazido, e à força arrancou Teseu. Cruzou-se com o fantasma de Meleagro que lhe implorou que casasse com a irmã Dejanira. Chegou mesmo a encontrar o fantasma de Medusa e, fosse lá como fosse, enfrentou o olhar petrificante. Então Héracles chegou a sala do trono de Hades e Perséfone, filha de Zeus e Deméter. Tal como Atena, Perséfone era meia-irmã de Héracles e quis não só agradar ao pai ajudando o herói, como libertar o mundo dos mortos deste visitante invisível, tão depressa quanto possível. Disse, por isso, a Héracles que podia levar o Cérbero para o mundo dos vivos, se o conseguisse com as suas próprias mãos. Nem a espada, ou a lança, ou o bastão tinham qualquer capacidade no mundo dos mortos, não demorou muito para Héracles derrotar o Cérbero e domesticá-lo, então começou a sua subia ao mundo dos vivos, levou Cérbero até Euristeu que ficou aterrorizado com a visão do cão do inferno e refugiou-se para o seu jarro de bronze. Cérbero não permaneceu por muito tempo no mundo dos vivos. Logo que Euristeu viu e reconheceu que as 12 missões tinham sido compridas, libertou Héracles e Cérbero pôde voltar a escuridão.


APÓS OS TRABALHOS



Héracles liderou a sua guerra com Tróia, uma geração antes da que viria a ter lugar por causa de Helena. Na época, o rei de Tróia era Laomedonte para quem Apolo e Posídon tinham trabalhado durante um ano inteiro por uma recompensa, que o louco rei se recusou a pagar, uns cavalos que Zeus lhe tinha dado. Talvez tivesse encorajado por ver deuses imortais reduzidos a servir como pastor e trabalhador, mas falhou ao prever o que fariam quando terminassem o trabalho. Logo que tal aconteceu, Apolo lançou uma praga de flechas sobre Tróia e o deus do mar enviou um monstro marinho para atormentar a costa. O oráculo disse a Laomedonte que a única forma de apaziguar a ira dos deuses era permitir que a aterradora serpente marinha levasse a sua filha Hesíone. Após ouvir o rei prometer que daria os seus cavalos a quem salvasse a flha, Héracles dirigiu-se para a praia a fim de lutar com o monstro, mas este aproximou-se de boca aberta e engoliu-o. Héracles permaneceu no seu estômago durante dias, mas depois abriu caminho para a liberdade, matando o monstro. Laomedonte recusou-se de imediato a cumprir o prometido e Héracles invadiu a cidade de Tróia matando a torto e direito. O rei morreu às mãos do héroi e também os filhos, à excessão do mais novo, Príamo, que viria a ser o proximo rei de Tróia. Héracles casou Hesíone com o companheiro Télamon, passando assim a ser rainha de Salamis. Héracles quase não tinha visto a mulher Mégara, enquanto duraram os 12 trabalhos, mas mesmo assim lá tinham conseguido ter 3 filhos (segundo algumas narrativas seriam 8). Enquanto ele tinha estado no mundo dos mortos, para ir buscar Cérbero, muita gente achou que teria morrido e nunca mais regressaria. Lico, o filho de Posídon, matou Creonte e tornou-se o tirano de Tebas. O tirano Lico estava tão confiante da morte de Héracles que começou a perseguir Mégara e Anfitrião, o padrasto de Héracles que vivia há anos no palácio de Tebas. A família de Héracles pensou que todos tivessem sido mortos, mas ele apressou-se a regressar tendo chegado mesmo a tempo. Encontrou Lico e os seus apoiantes pelo que começou imediatamente a disparar com as suas flechas envenenadas sobre eles. Os que não morreram logo acabaram por ser mortos a surra. Então a Hera lançou a loucura sobre ele. Convenceu-se de que os filhos dele eram filhos do inimigo, Euristeu, e matou a mulher e todos os filhos antes de cair num sono estuporoso. Quando acordou tinha esquecido de tudo que tinnha feito no palácio. Mal se recordou do sucedido, toda a cidade de Tebas estremeceu com os seus gritos de desgosto, culpa e horror. O que fizera a mulher e aos filhos era terrível, mas tinha sido consequência da loucura enviada por Hera. A acção horrivel que ele praticou a seguir não teve tanta desculpa. Héracles foi a Ecália para entrar numa competição de arqueiros. Era previsto que o prémio fosse a filha do rei Urito, Íole, mas quando Héracles venceu, foi-lhe negado o prémio. O héroi ficou desvairado e matou os dois filhos de Urito e obrigou o rei a dar-lhe Íole em casamento. Até aqui, os deuses acharam que Héracles tinha razão, mas quando o filho de Urito, Ifito, foi até a cidade de Héracles, Tirinte, o héroi deu-lhe as boas vindas e depois atirou-o de uma torre à baixo, o que lhe causou a morte. Uma tal traição ao dever da hospitalidade exigia a punição dos deuses; era como se Héracles andasse em busca do castigo pelo trágico acto de loucura cometido anteriormente. Em seguida, ele odendeu directamente um dos deuses, já que foi ao santuário de Apolo, em Delfos, e roubou o tripé em que Pítia costumava sentar para dizer os oráculos. Héracles foi ajudado pela meia-irmã Ártemis. Os quatro filhos de Zeus confrontaram-se uns com os outros e iam começar a lutar quando o rei dos deuses interviu, lançando um relampago, para os forçar a separarem-se. O tripé voltou a Delfos e Héracles foi punido por todos os maus comportamentos anteriores, tendo voltado a servir, desta vez como escravo. Hermes vendeu Héracles num mercado onde foi comprado pela rainha Ônfale. Ela era rainha da Lídia e os gregos gostavam de imaginar a sua corte com o máximo da decadência. Lá as mulheres fingiam ser homens e estes fingiam ser mulheres. Ônfale entretinha-se a vestir o novo escravo com roupas de mulher, enquanto ela se envolvia na pele de leão e tentava levantar o bastão. Como escravo, Héracles tinha trabalhos de mulher e gostava de fiar.


SANGUE E MORTE



Quando terminou o seu periódo de escravatura, Héracles começou a procurar uma nova mulher. Lembrou-se que Mégara tinha falado da irmã Dejanira no mundo dos mortos, tendo pedido a Héracles que casasse com ela. Agora, ele queria descobrir a razão pela qual Mégara tinha dito a Héracles que ele era o único homem do mundo que podia ser capaz de ser marido dela. Empreendeu então a grande viagem até Cálidon, onde Dejanira vivia no palácio do pai, Eneu, e descobriu que ela andava a ser cortejada pelo deus-rio Aqueloo, uma divindade que gostava de alterar a sua forma para a de um touro e uma cobra. Dejanara não queria ter tal marido e saudou a chegada de Héracles, seu salvador. Tal como tantas vezes antes, Héracles usou a sua habilidade de lutador para derrotar o deus-rio. Agarrou o chifre de Aqueloo quando se transformou em touro, e acabou-se logo a luta. O chifre tornou-se no corno mágico da abandância, a cornucópia que transborda de alimentos. Héracles ganhou não só o corno da abundância mas também Dejanara como esposa, mas, como de costume, atraiu o azar pelo caminho de regresso a casa. Estava quase a atravessar o Rio Licorno quando o centauro Nesso chegou ao pé dele e lhe disse que era o barqueiro e que tinha a responsabilidade de os passar às costas para o outro lado do rio. «Primeiro» - disse ele a Héracles - « é a noiva que se senta nas minhas costas e quando ela estiver em segurança na outra margem, venho buscar-te» Héracles pôs Dejanira nas costas do centauro e lá seguiram eles rio adentro. Quando estavam quase a chegar ao outro lado, Nesso começou a puxar Dejanira para ele, ameaçando violá-la, enquanto gritava pela ajuda do marido. Héracles pegou no arco e atingiu o centauro, que ainda, levou uns momentos a morrer e com o último suspiro ainda teve tempo de injuriar Héracles « Dejanira - sussurou ele - é melhor guardares o meu sangue, pois tem o poder de te fazer reconquistar o amor do teu marido se alguma vez ele perder interesse em voce» Dejanira apanhou o sangue, escondeu-o do marido e lá seguiram eles para a cidade da Trácia. Héracles voltou a partir para outra campanha, travando uma nova guerra de onde levou um prisioneiro, Íole, a filha de Urito. Dejanira ficou dominada pelo ciúme e decidiu usar o sangue mágico de Nesso para voltar a conquistar o marido. Ela ofereceu-lhe um manto magnifico, manchado por dentro com o sangue do centauro. Mas, em vez de recuperar o seu amor, o sangue queimou-lhe a carne e os ossos, já que a flecha que matou Nesso tinha sido mergulhada no veneno câustico de Hidra. Héracles não conseguiu tirar o manto porque o sangue se colou ao seu corpo e sentiu que ia morrer de imediato. Nesse momento, recordou um oráculo que lhe tinha dito nunca seria morto por um ser vivo. O oráculo estava agora a cumprir-se. Héracles ordenou que dosse construida uma pira no Monte Eta e foi transportado para lá para aí morrer. Ninguém se decidiu a atear a pira enquanto ele estava vivo e por isso teve de esperar até que um estranho, um homem chamado Filoctetes chegou e concordou em ajudá-lo, libertando-o assim da sua agonia. Como recompensa por ter ateado a pira, Héracles deu a esse homem o seu grande arco, e Filoctetes levou-o para a guerra de Tróia. Héracles não morreu na pira fúnebre. Em chamas tornou-se num deus e Atena desceu no seu carro para o levar para o Olimp. Então, finalmente, Hera perdoou-lhe e ele pôde tomar o seu lugar com Apolo e Ártemis, Hermes e Atena, todos os filhos de Zeus. Dejanira suicidou-se quando descobriu que o manto tinha matado o marido, e Héracles, no Olimpo, celebrou o terceiro casamento e último casamento com a deusa Hebe, filha de Zeus e de Hera.