segunda-feira, 23 de maio de 2011
A noção dos Kami



Tantos nos escritos muito antigos como no « o caminho do kami», o realce é colocado em kami, isto, é, nos espíritos. Este termo tem um sentido muito mais vasto que «deuses», mas o conceito kami é muito impreciso. Motoori Norinaga, uma figura importante na moderna renovação do Xintoísmo, escreveu que kami abarca não apenas os deuses, mas os seres humanos (especialmente imperadores), objectos naturais e tudo que sai do comum, o que possuem um puder superior ou que foi inspirador de temor. E ele continuava dizendo que o grande mal tal como o bem excepcional caracterizavam um kami. A quantidade de kamis é infinita e a história acerca deles, os mitos, não são necessariamente religiosos, segundo a nossa avaliação. Os japoneses divinizavam as forças naturais porque sentiam que elas eram mais poderosas que os seres humanos, e veneravam-nas sob o nome de kami, qualquer coisa que fosse considerada fora do comum, ou um ser que parecesse possuir um poder superior passava a fazer parte da designação kami, incluindo seres humanos, altas montanhas, árvores altas, pássaros e outros animais etc. os kamis tem corpos como os dos seres humanos e possuem todas as suas qualidades e defeitos. Quando o kami morre, o espírito continua. Por vezes, as almas podem deixar o corpo e manifestar-se num objecto. O kami também pode fazer tanto bem como o mal. As sucessivas gerações de imperadores foram também apelidadas de kami.


A história da criação


Os kamis, segundo os japoneses, foram responsáveis pela criação do mundo, como o conhecemos. Em o Kojiki, é-nos tido que no princípio havia o kami do centro do céu e depois apareceram o kami do nascimento e do crescimento. O irmão e irmã kami, Izanagi, «o macho que convida» e Izanami, «a fêmea que convida» eram o oitavo par de divindades a surgirem após o céu e a terra terem sido criados a partir do caos. A Izanagi e Izanami tinham sido ordenando que criassem as ilhas do japão. Eles ficaram de pé, lado a lado, na ponte flutuante do céu, fizeram baixar uma lança cheia de jóias celestes dentro do oceano e ele começou a agitar-se. Quando a água começou a coagular, eles retiraram a lança e as gotas de águas que caiam da sua extremidade transformaram-se numa ilha, a primeira terra sólida. Os dois deuses em seguida desceram até a ilha e construíram um pilar celeste e um palácio magnífico. Izanagi e Izanami rodearam o pilar até que se encontraram, examinaram corpo um do outro e concluíram que se encaixavam. O primeiro resultado dessa união foi uma criatura deformada chamada «filho Sanguessuga» que o casal abandonou no mar, dentro de um barco de cânfora. Os deuses disseram a Izanagi e Izanami que a razão deste infeliz nascimento se devia a Izanami ter falado primeiro durante o ritual de acasalamento. Mais uma vez os dois contornaram o pilar e daí nasceram as oito grandes ilhas do japão, assim como o outro grande kami. Amaterasu, a deusa do sol, era a filha favorita e foi enviada por uma escada para o seu lugar no céu. O deus da lua Tsuki-yomi veio a seguir e foi enviado para o céu como complemento e consorte do sol. Depois surgiu Susano-o, um deus cruel e de mau temperamento, dado à destruição e a fazer muito barulho, pelo que foi expulso para se tornar no deus da tempestade.


Morte de Izanami e o descendente de Izanagi no inferno



Ao dar à luz o deus fogo, Izanami ficou tão profundamente queimada que morreu. Mas antes de morrer ainda conseguiu fazer nascer a deusa da água, a deusa da terra e a abóbada do céu, que juntos podiam controlar o deus do fogo e evitar que o mundo fosse destruído. Izanagi, profundamente infeliz, foi à terra de Yomi (o país da morte) para ver se conseguia recuperar Izanami, o que foi recusado. Esta disse a Izanagi que não olhasse para ela, mas, contra os seus desejos, ele partiu um dente do seu pente de madeira, acendeu-o e usou-o como tocha para a ver. Foi chocado com a terrível transformação que ela tinha sofrido. Como vingança, Izanagi criou oito espíritos femininos que perseguiram Izanagi até ao fim do mundo. Ele tomou banho e purificou-se da contaminação resultante do seu contacto com a morte, e da água em que se lavou surgiram outros kami.

Amaterasu e Susano-o


Amaterasu e Susano-o tinham uma relação tempestuosa pois Susano-o deliciava-se a destruir as criações da irmã. Deitou a baixo as paredes de terra dos campos de arroz na primaveira e na época da colheita fez com que «os potros malhados celestiais» tombassem pelos campos. Encheu os diques de irrigação e depositou excrementos nos templos construídos para os festivais dos primeiros frutos. O deus da tempestade também destruiu todos os cereais. Desesperada, amaterasu escondeu-se na gruta rochosa do céu, tendo bloqueado a entrada com uma grande pedra, o que fez com que o mundo mergulhasse na escuridão. Este conflito de irmãos fornecesse uma explicação para a mudança das estações da primaveira para o outono e para o inverno. Amaterasu foi atraída para fora da gruta por uma exposição de jóias penduradas numa árvore fora da gruta, foi persuadida a sair e a terra voltou a ficar iluminada pelos raios de sol.
A última, mas certamente não a mais insignificante, das criações dos kamis foi a linhagem dos imperadores do japão. Amaterasu enviou o neto, Ninigi, que desceu do céu para governar o japão. O bisneto de Ninigi, jimmu, tornou-se finalmente imperador e, desde então, todos os imperadores japoneses passaram a ser considerados divinos. A imagem de Amaterasu e seus símbolos, actualmente a insígnia do imperador, encontram-se no grande santuário imperial de Isé, que passou a ser o centro do seu culto e é considerado o local mais sagrado do japão.

Mitos do povo


Existem muitos cultos locais no japão que não fazem parte do xintoísmo e que não se baseiam nos escritos antigos. Jean Herbert, um académico, descreveu o processo de kamificação, através do qual, pessoas que em vida mostraram capacidades especiais, passaram a ser adoradas depois de mortas. Enquanto muitas destas figuras são claramente históricas, outras parecem ser produto de mitos. As histórias acerca de Uji-gami, ou kamis ancestrais dos clãs ou das famílias, e o patrono kami de várias profissões muitas vezes parecem ter sido cedidos pelos mitos.

Deuses das chuvas



A chuva também tinha os seus deuses especiais como o deustaka- okami, que vive nas montanhas , e kra-okami que reside nos vales e que pode provocar neve e chuva . Na descrição da província izumo, afirmava-se que para o oeste do monte kaminabi, a mulher do deus aji-suki-taka-hikone deu a luz o deus tak- tsu-hiko e aconselhou-o a construir um templo como símbolo de respeito para com os deuses da chuva.
Deuses das montanhas
O sagrado monte fuji e adorado como um kami por muitas seitas japonesas e tem uma enorme e complexas mitologia. Diz-se que e o eixo do mundo e a fonte do céu e da terra e que se terá elevado miraculosamente da terra no século III a.C. Uma história conta como um imperador foi atirado par dentro da cratera e nunca mas foi visto


Deuses dos rios e do mar



A maior parte dos rios japoneses tem o seu kami respeitado e receado por criar inundações. Um assustador deus anão, kappa, e acusado de afogamentos, mas as pessoas podem escapar a sua cólera curvando-se perante a ele, o que o força a retribuir a vénia, o que faz com que a água da cheia lhe escorra para o cérebro. Muitas quedas de água tem deusas com as suas histórias e santuários, existem diversos deuses do mar que foram criados quando izanagi lavou as impurezas da morte e entre elas o deus fundo do mzr, o deus das águas semi- profundas e o deus da superfície da água


Deuses dos tremores de terra


Os terramotos são por vezes atribuídos a Nai-no-kami, o deus do tremor de terra, e outras a um peixe gigante chamado Namuzu, o qual está atado no subsolo com trepadeiras sob um penedo até que se escapa. Os movimentos que faz para se libertar seriam a causa dos tremores de terra frequentes.


Deuses do vento



Da respiração de Izanagi saiu o deus do vento, Shina-tsu-hiko, que soprou a névoa que cobria a terra. Presentemente são muitos os deuses do vento, alguns dos quais responsáveis pelas brisas suaves. Os pescadores acreditavam em Haya-ji, o deus dos tufões, que transportava o vento num saco que trazia às costas.

Deuses da trovoada


Há uma mitologia curiosa relacionada com as «árvores da trovoada» que estão protegidas contra o relâmpago pelo Kami-nari, o deus da trovoada. Uma história de Nihongi refere o derrube de uma floresta para construção de uma frota imperial. O encarregado pelo corte das árvores, kahabe-no-omi, recusou-se a parar as operações quando foi dito pelo deus da trovoada que estava a atacar as árvores da trovoada. Ele insistiu, apesar da chuva torrencial, dos trovões e dos relâmpagos e, por fim, o encarregado queimou o deus da trovoada, que se tinha transformado num peixe. Há uma história que narra a punição da imperatriz Saimei por ter ousado cortar algumas árvores sagradas para construir o palácio de madeira. Em muitos locais, as rochas são adoradas como kami devido às suas formas impressionantes. Uma delas é especialmente venerada como a pedra que a imperatriz Jingo carregou na barriga para dar á luz o filho só após completar uma expedição militar contra os inimigos, os coreanos.


A deusa da comida


Existem diversos deuses dos alimentos – do arroz. Do peixe, dos vegetais – cada um as respectivas histórias. Ukemochi é a deusa geral da comida. Diz-se que Amaterasu enviou o irmão, tsuki-yomi, para procurar os segredos dela. Uke-mochi preparou uma refeição com a boca que lhe desagradou tão profundamente que ele a matou e atou para parar o fornecimento de comida. Amaterasu interveio e ordenou que fosse feito um santuário mesmo ao lado do dela em Isé. O cadáver de Uke-mochi produziu sementes e cereais, animais da quinta e bichos-da-seda.


Dragões e Cobras



No japão antigo, o povo acreditava num deus cobra, Orochi, que vivia no cimo das montanhas. A religião budista falava de um deus dragão, Ryujin, que comandava as nuvens, a chuva e a água. Havia o dragão, Yasha, um dos deuses demónios que protegia o budismo. Todas estas divindades tinham grandes bocas, dentes, aguçados, chifres pontiagudos e olhos que viam tudo. No folclore japonês existem histórias que contam como as pessoas se transformaram em cobras depois de mortas devido aos maus caminhos seguidos e aos costumes miseráveis. Um homem passou a ser uma serpente por seus desejos não terem sido satisfeitos. As mulheres mutam vezes associadas a cobras e as histórias narram que isso acontecia por serem cruéis e possessivas para com os amantes. As cobras não são apenas consideradas símbolos de maldades, mas também do amor sem limites. Há muito tempo atrás, na época de keicho, vivia uma bela rapariga em senju, na província de Musashi. Um rapaz solteiro chamado Yaichiro apaixonou-se por ela e enviou-lhe muitas cartas a que ela não respondeu. Yaichiro morreu de desgosto e a rapariga casou com outro. Na manhã a seguir ao casamento, o casal não saia do quarto e, quando a mãe dela entrou, foi encontrar o noivo morto e uma cobra que saia dos olhos da noiva. Os aldeões acreditavam que a cobra era o desgostoso Yaichiro. As serpentes e os dragões também estão associados a natureza. Os desastres naturais, em especial as inundações devastadoras, estão ligados a eles. Acreditava-se que depois das tempestades eram empurrados pelas águas dos seus esconderijos e saiam para o ar livre. Na mitologia japonesa existem quatro tipos de dragões: os celestiais, que guardam os palácios dos deuses, os espíritos que trazem a chuva abençoada, os da terra que determinam o curso dos rios, e os dragões que são os guardiães de todos os tesouros terrestres.


Infernos e Demónios


O inferno, ou jigoku, é subterrâneo e está dividido em oito zonas de fogo e oito zonas de gelo. Emma-o é o dirigente do jigoku e o juiz dos mortos. Identifica-se com a divindade chinesa, Yanluo Wang e as suas origens são o deus hindu da morte Yama. No jigoku, emma-o está rodeado por 18 generais e mil soldados, assim como terríveis demónios e guardas com cabeças de cavalo. Segundo uma tradição, os seres da morte fazem uma viagem para atravessar uma vasta planície vazia. Noutras versões, os seres infernais guardam o morto durante a viagem. À entrada do jigoku situa-se uma montanha escarpada, que os falecidos têm de trepar, e do outro lado da montanha há um rio com três travessias. Uma delas apresenta um vau estreito, o qual pode ser atravessado pelos que cometeram apenas pequenos pecados. Nas outras, há uma ponte por onde podem passar as pessoas boas. A terceira tem uma corrente fortíssima e está repleta de monstros, com os quais os grandes pecadores se têm de debater. Do outro lado da terceira travessia aguarda uma mulher velha horrível que despe as vitimas. Estas são então levadas pelos guardas de jigoku até Emma-o que apenas julga os homens, enquanto a irmã decide o destino das mulheres. O deus está sentado entre duas cabeças cortadas e um espelho mágico reflecte os erros passados dos pecadores. Emma-o procede ao julgamento dos pecados individuais e manda as almas para a parte adequada do inferno. Estas, porém, podem ser salvas com a ajuda de um bosatsu, a forma japonesa de bodhisattva.

Os oni


Estes são demónios gigantescos com chifres. Diz-se que chegaram ao japão vindos da china, juntamente com o budismo e os sacerdotes budistas organizam festivais anuais para os expulsarem. Os oni podem ter uma grande variedade de cores. Possuem três dedos, três dedos grandes dos pés e, por vezes, três olhos. São, normalmente, cruéis e libertinos e tem fama de se precipitarem desde o céu, em carros, para virem roubar as almas das pessoas que estão próximas da morte. Uma história conta como o muito pequeno Momotaro impedia que jovens raparigas fossem apanhados pelos oni. Os oni do jigoku levam os pecadores para emma-o e diz-se que são os responsáveis pela criação de doenças.